Castelo Falkenstein

Leo !
4 min readJun 17, 2021

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ME VEJO SENTADO SOB ESTA PILHA DE LIVROS, NÃO É A PRIMEIRA VEZ, JÁ DEVO TER ME VISTO NESTA CENA MAIS DE UMA DEZENA DE VEZES…

Agora já tenho a nítida sensação de que é um sonho, algo entre as linhas do mundo do sonhar, compreendi ao ver meu corpo, aparência mudada, identifico lembranças que não são minhas, ou nao eram, mas que eu sinto.

São vividas, são desta face que vejo refletido na capa de um livro, papel laminado embaçado, traços de memória e imaginação, portanto já me identifico, aqui sou LEMAC d´Urghy, o que pode se chamar de Herói arruinado ou até mesmo de personagem misterioso, mas na primeira vez que sai deste quarto de paredes mofadas fui chamado de, o Escritor. Foi um Anao Artesão que me disse isto, bom sujeito nao é, mas foi de muito auxílio até aqui, agora vou enterrá-lo no jardim das margaridas que fica ao lado da casa do Padre, nos fundos da Capelinha.

Visto minhas botas de borracha para mais uma longa caminhada até a estação de Gironaves, levo o guarda chuva, um punhado de folhas e Caneta tinteira, o livro e este diário. Não sei quantos dias ficarei longe deste quarto mofado, espero que não muitos ainda tenho que terminar aquele capítulo no manuscrito, mas também é preciso encontrar a Alquimista sempre é bom ter fórmulas novas antes de ensinar etiqueta aos Lordes da Fábrica.

Assim se passará mais um dia, talvez dois, talvez dez, assim se passam mais três ou quatro páginas deste diário, para deixar bem evidente caso me encontre por aqui, sou alto para o padrão médio, sou magro para os que podem jantar, os cabelos quase nunca penteados e a barba sempre com manchas de tinta, quando criança posso lembrar da família reunida em volta da lareira, contavam histórias de cavalariços, hoje, adulto nao tenho cavalos muito menos com quem dividir o fogo incandescente das toras colhidas no outono, mas sobretudo meu modo discreto de ser, constantemente galante e cordial me imunizam da descrença de ser um maltrapilho, daqueles malquistos pela sociedade, entretanto alguns desprezam meu instinto curioso e até inxirido de viver, e também há aqueles que me ignoram por desmentir minha fragilidade social.

É bem verdade que a primeira impressão é enfadonha e empoeirada, como um castiçal velho que ainda reluz seus contornos dourados por entre as teias de aranha, é difícil manter as calças bem passadas quando só se tem um par delas, ao menos minhas botas se desprendem rapidamente da lama que a encobre, basta um jato potente de água, mas em geral minha maleta de utensílios e manuais de etiqueta chegam ao ambiente antes do meu aroma peculiar de cela abandonada.

Acredito que agora já seja possível me identificar quando nos cruzarmos nas plataformas das estações de decolagem, mas algo que só confessarei aqui nestes escritos, sou mesmo o mais pungente observador do cotidiano, cada linha que traço é em verdade os olhos vigilantes da sociedade, não há um só dia que na caminhada vespertina não encontre alguém, ou algo ou talvez um o que. Minha sina é portanto, anotar, apontar, apagar e escrever o que me monstra posto, é bem por isso que vez ou outra no mês passo dias afinco visitando e lecionando para nossos habitantes, desde os mais afortunados até mesmo ao mais sádico sanguinário. O que não me separo jamais é aquele livro, o de capa espelhada, afinal se nao ele, o que me lembrará de mim ?! depois do mestre artesão, não sobrou ninguém daqueles primeiros dias, só posso portanto almejar o novo vindouro verão, aliando-me conforme possível aos lordes e cientistas para assim fugir de qualquer um que por qualquer motivo, não queira o fim da minha história, ou assim o quisesse, afinal daquela introdução somente eu ainda escrevo.

Enfim, com toda certeza é meu Carisma (bom) que me mantém vivo pelas estradas, contando claro com os (bons) contatos, que naturalmente só chegaram a mim devido ao meu (ótimo) grau de educação mas como estamos num emaranhado de histórias e encontros posso me vangloriar das minhas (boas) capacidade em feitiçaria e furtividade, até mesmo porque não posso de modo algum bem dizer minha própria compleição física.

Agora, apesar de qualquer lamúria percebida nessas palavras, deixo dito, ou melhor não dizer, apenas contar, são mais de 6 mulheres que pretendo me deitar, dentre elas, apenas uma me deixa pernoitar, assim é difícil recuperar-me a consciência para novas caminhadas, mas todas têm em comum, nenhuma delas me faz retornar na mesma semana, ainda bem que não há telégrafos ou geringonças de comunicação em todos os lugares, assim me ponho na obrigação de fazer a vez de carteiro, informante, leitor assíduo de histórias pessoais, jornalista da coxia, tradutor de sensações por entre os lugares, enfim no amor, me resguardo as histórias, mas há sim a finalidade soberana, entender o que se passou para eu passar tanto tempo passando por aqui, o entreposto dos mundos, e para isso preciso voltar aquele quarto para terminar os capítulos do manuscrito que poderá dizer os dias pernoitados lá entre uma sala de espera e um castelo da alta monarquia.

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Leo !

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